Tá vendo aquela cidadezinha lá embaixo? Este fim de semana ela se transforma na "capital da literatura".
Começa em hoje, em São Francisco Xavier, o VII Festival da Mantiqueira - Diálogos com a Literatura. Quem vem????
De 4 a 6 de abril, São Francisco Xavier (a 138 km de São Paulo) deixa de ser somente uma bela estância turística para se transformar na cidade da literatura. É lá que será realizado o VII Festival da Mantiqueira – Diálogos com a Literatura. Nos três dias de evento acontecerão mesas de debates, conversas com escritores, além de shows, atividades para as crianças e oficinas para estudantes e profissionais de biblioteca. Em 2014, a iniciativa do Governo do Estado de São Paulo, com a curadoria da jornalista e escritora Joselia Aguiar, tem como tema geral “À Margem” e ganha um “esquenta” em São Paulo, na terça-feira, dia 1 de abril. As entradas do Festival e do Esquenta Mantiqueira são gratuitas.
A programação se volta para narrativas que estão fora do arco de visão, passam despercebidas, estão esquecidas ou silenciadas, desvãos e sombras de um país e de um tempo que vão se revelar na obra de ficcionistas, historiadores, repórteres, letristas e cineastas.
Gêneros que não costumam ocupar lugar de peso nas festas literárias, a literatura infantil e a canção popular são valorizados pelo Festival este ano. Os debates abarcam a diversidade cultural brasileira em autores e seus livros, assim como os aspectos inexplorados na ficção e na historiografia dos anos de arbítrio, com testemunhos que só agora começam a ser escutados.
A abertura do Festival na Serra da Mantiqueira será na sexta-feira (4.4), às 20h, com Cristovão Tezza (“O Filho Eterno”) com a conferência "Literatura à margem", sobre a condição do autor que habita um país periférico e as possibilidades da ficção que revela o que não se vê. Tezza lança livro novo, “O Professor”. A noite segue com o músico João Bosco e o show “Quarenta Anos Depois”, às 21h, com os sucessos que marcaram a carreira do cantor em mais de quatro décadas.
As mesas de debate - O Festival abre espaço para a literatura infantil e reúne autores que tratam da influência das matrizes culturais na escrita, tema da mesa “O Rio que Corre na Minha Aldeia”, realizada sábado (5.4), às 11h.
A mesa conta com Daniel Munduruku (“Contos indígenas brasileiros” e “Histórias de índio”) único escritor indígena na lista dos 70 autores convidados para representar o Brasil na Feira do Livro de Frankfurt em 2013, vencedor de prêmios como o Jabuti e o Prêmio Tolerância, outorgado pela UNESCO. Além de Ilan Brenman (“Lendas judaicas”, “A Barba do Rabino”), de origem judaica, com mais de 60 obras publicadas, e Reginaldo Prandi (“Ifá, O Adivinho”), sociólogo com trabalho focado na cultura afro-brasileira, autor de livros de sociologia, mitologia, literatura infantojuvenil e ficção policial. A mesa tem a mediação da curadora Joselia Aguiar.
A tarde de sábado começa com “O Tempo da Escrita”, às 14h30, com autores cuja estreia na literatura pode ser vista como “tardia” – acima dos 50 – e hoje mantêm uma publicação intensa e ousada. O debate reúne o vencedor do Jabuti de Melhor Romance em 2013, Evandro Affonso Ferreira (“O Mendigo Que Sabia de Cor os Adágios de Erasmo de Rotterdam”), Maria Valéria Rezende (que lança o novo “Quarenta dias”) e Elvira Vigna (“O que deu para fazer em matéria de história de amor”). A mediação é de Sérgio Rodrigues, escritor e critico literário que, no dia seguinte, falará de seu romance “O Drible”.
Ainda no sábado, ocorre a mesa “Histórias a Contar da Ditadura”, às 17h, com Daniel Aarão Reis Filho e Bernardo Kucinski, um dos poucos escritores brasileiros que tratam da ditadura militar em obras ficcionais.
Kucinski acaba de lançar a coletânea de contos “Você vai voltar para mim”, com histórias que têm como pano de fundo os anos posteriores ao golpe, que completa 50 anos na semana do Festival. Também relançou “K” (2011), inspirado no drama do pai, judeu polonês radicado na capital paulista, na busca pela filha desaparecida durante a ditadura.
Aarão Reis, historiador e professor titular de História Contemporânea na Universidade Federal Fluminense (UFF), também lançou recentemente “Ditadura e democracia no Brasil”, no qual aborda as conexões civis da ditadura. O autor, que participou da luta armada, possui diversos livros e artigos publicados sobre a história da esquerda no Brasil e sobre a experiência socialista no século XX. A mediação é de Noemi Jaffe, autora de, entre outros, “O que os cegos estão sonhando” e “A verdadeira história do alfabeto”.
No domingo (6.4), às 13h, a Tenda Literária recebe o compositor Fernando Brant e José Carlos Capinam, o Capinan, na mesa “As Canções – Letristas, Letras e Entrelinhas de uma Época Brasileira”. Em pauta, a música popular, que operou como poderosa forma de registro, resistência e renovação na vida do país do último meio século. Do Clube da Esquina ao Tropicalismo, grandes compositores se encontram para falar sobre o ofício e a história recente: como driblaram a censura para despertar sensibilidades com canções que atravessam o tempo. A mediação é de Humberto Werneck, autor de, entre outros, “Chico Buarque – Tantas palavras”, “O santo sujo – a vida de Jayme Ovalle”, vencedor do prêmio APCA de melhor biografia de 2008, e “Esse inferno vai acabar”, recente antologia de crônicas.
O compositor Fernando Brant fez parte do Clube da Esquina e iniciou, no fim dos anos 1960, uma das mais férteis parcerias da história da música brasileira. Ao lado de Milton Nascimento fez mais de 200 canções como “Travessia”, “Canção da América”, “Saudade dos Aviões da Panair”, “San Vicente”, “Nos bailes da vida", “Para Lennon e McCartney”. Assina também composições com Lô Borges, Marcio Borges, Tavinho Moura, Wagner Tiso. Criou roteiros e letras para balés, teatros e trilhas de filmes e novelas.
Poeta e letrista, José Carlos Capinan compôs sozinho ou com parceiros canções como “Ponteio” (com Edu Lobo), “Soy loco por ti América” (Com Torquato Neto e Gil), “Clarice” (com Caetano), “Movimento dos Barcos” (com Jards Macalé). Participou dos movimentos culturais da década de 1960: Centro Popular de Cultura (CPC), Feira da Música e Tropicalismo. Foi coeditor ao lado de Abel Silva da "Revista Anima". Estruturou a TV Educativa da Bahia, foi Secretário da Cultura do Estado da Bahia, e presidente dos Fóruns Nacional de Secretários da Cultura e Estadual de Cultura. Integrou a antologia "26 poetas hoje", organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, em 1976. Publicou, entre outros, “Inquisitorial", "Uma canção de amor às árvores desesperadas" e "Estrela do Norte, Adeus".
Conversas
No domingo (6.4), o público pode participar de bate-papo com os vencedores do Prêmio São Paulo de Literatura na categoria Estreante em 2013. Os autores falam sobre as obras e sobre o processo de escrita e a publicação do primeiro Romance. Os bate-papos são conduzidos por Rogério Pereira, editor do “Rascunho” que também estreou há pouco com o romance “Na escuridão, amanhã”.
Com Jacques Fux - Às 10h, a conversa é com Jacques Fux, vencedor com menos de 40 anos com “Antiterapias”. Atualmente Fux é pesquisador-visitante em Harvard, onde realiza pós-doutorado sobre literatura, trauma e as representações artísticas na era pós-testemunho do Holocausto.
Com Paula Fábrio - Às 10h45 o bate-papo é com Paula Fábrio, que conquistou o prêmio na categoria Estreante com mais de 40 anos, por “Desnorteio”.
Com Sérgio Rodrigues - Em ano de Copa o Mundo no Brasil, o Futebol também ganha destaque no Festival, que recebe Sérgio Rodrigues, autor de “O Drible”, às 11h30. Rodrigues, escritor e crítico, referência na web literária, atuou por muitos anos como jornalista de esportes e cobriu a Copa do Mundo do México em 1986, experiência usada para dar vida ao universo futebolístico de “O Drible”.
No romance o autor parte da antológica cena do drible que Pelé aplicou no goleiro uruguaio Mazurkiewicz na semifinal da Copa de 1970, vista e revista por pai e filho num velho aparelho de TV, para cobrir cinco décadas de um sombrio drama familiar e desdobrar novos sentidos narrativos para a palavra “drible”. Murilo Filho, um famoso cronista esportivo à beira da morte, desfia suas memórias da época de ouro do futebol enquanto tenta se reaproximar de seu único filho, com quem rompeu relações há mais de vinte anos.
A tradução de “O drible” para o espanhol, assinada pelo escritor mexicano Juan Pablo
Villalobos, será lançada em junho deste ano pela editora Anagrama, de Barcelona, com distribuição também na América Latina. Em 2015 o romance sairá na França pela tradicional editora Seuil a tempo do Salão do Livro de Paris, que terá o Brasil como país homenageado. O romance, lançado em setembro de 2013, é o sétimo título da obra de Rodrigues, iniciada em 2000 com o volume de contos “O homem que matou o escritor”.
Mais atividades
No sábado (5.4) o coreto da Praça Cônego Antônio Manzi é palco para Ilan Brenman, que revela para crianças e adultos os bastidores da criação de alguns dos seus títulos. Durante a noite o espaço ainda recebe o Sarau do Binho, tradicional na Zona Sul de São Paulo, às 19h, e a Banda Paralela, às 21h.
Para as crianças, também tem o espetáculo “A Biblioteca Mágica”, da Cia Histórias do Baú, além de atividade com atriz paulistana Graça Berman, que conta histórias presentes em obras de Daniel Munduruku, Ilan Brenman e Reginaldo Prandi. Ambos na Biblioteca Solidária de São Francisco Xavier.
O Festival ainda conta com uma Tenda da Livraria Saraiva, que recebe os autores para sessões de autógrafos.
Programação Fundação Cultural Cassiano Ricardo - A Fundação promove, na Sala de Palestras, conversas com escritores da região. Participam da programação nomes como Diego Miranda, Sônia Gabriel, Carlos Abranches, Letícia Kamada e Beth Brait Alvim. Para a praça e ruas da cidade, ainda leva a cantora Ana Morena, com show “Cassiano em Letra e Canção”, o Coro Jovem Sinfônico de São José dos Campos e os Trovadores Urbanos.
Fonte: Secretária da Cultura/Governo do estado de São Paulo
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